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Estabelecendo uma linha de sangue

O grande problema da criação de muitas raças no Brasil é a ausência de linhas de sangue definidas. Salvo as sempre honrosas exceções, há uma grande dependência da importação de cães. E ainda assim, a melhoria que tais aportes de outros países trazem duram apenas uma ou duas gerações.
A explicação para esse problema da criação está na excessiva valorização das importações e ausência de um programa de criação definido.

Para estabelecer uma linhagem, não basta ter cães excepcionais. O principal fator é um criterioso programa de cruzamentos e seleção. Acontece que, no Brasil, foram pouquíssimos os criadores de que souberam direcionar um programa de acasalamentos.

Um programa de criação sólido pode produzir resultados até mesmo partindo de indivíduos inferiores a esses. Basta atentar-se para algumas etapas, ou seja, estabelecer objetivos de criação, selecionar matrizes e padreadores e escolher corretamente acasalamentos. Obviamente, também, deve-se levar em consideração que o trabalho de criação é de longo prazo.

Objetivos de Criação

O padrão da raça deve ser sempre o ponto de partida para se estabelecer os objetivos de criação. É pela sua análise que o criador sopesará quais qualidades valorizará e quais defeitos eliminará de sua criação. Claro que sempre privilegiando indivíduos sãos e férteis.

Antes de qualquer coisa, o criador deve, a partir da leitura do padrão da raça, formar a imagem de seu cão ideal. Para isso, deverá levar em consideração que o padrão tem aspectos objetivos e subjetivos, como demonstra o seguinte quadro:

DESCRIÇÃO SUBJETIVA : OBJETIVA

DESCRIÇÃO OBJETIVA

Aparência Geral: Molosso de tipo normal, mesomorfo e macrotálico dentro das proporções desejadas, sem gigantescas dimensões. Seu aspecto é harmonioso e vigoroso, devido aos seus poderosos músculos, debaixo de uma consistente e elástica pele, aderidos ao corpo por um tecido subcutâneo pouco solto. De andar tranqüilo, seguro, inteligente e de reações rápidas, demonstrando permanente alegria em seus movimentos. De caráter cordial e afetuoso, uma admirável cor branca, suas virtudes físicas o mostram um verdadeiro atleta.

Proporções Importantes: Por ser um animal mesoformo, nenhuma de suas regiões se salienta de seu corpo que é harmonioso e equilibrado. Mesocéfalo: o focinho deve ter o mesmo comprimento que o crânio. A altura da cernelha é igual à altura da garupa. A altura do tórax é igual a 50% da altura da cernelha. O comprimento do corpo ultrapassa a altura da cernelha em 10%.

Comportamento / Temperamento: Alegre, franco, humilde, amigável, pouco ladrador, demonstrando sempre ser consciente de seu poder. Jamais deve ser agressivo, caraterística que deve ser severamente observada. Sua atitude dominante o mostra em contínua competição territorial com exemplares do mesmo sexo, caraterística mais notável nos machos. Como caçador é astuto, silencioso, valente e corajoso.

Cabeça: de tipo mesocefálico, de aspecto forte e poderosa, sem ângulos abruptos nem cinzelamento, mostra um perfil côncavo-convexo; convexo no crânio devido ao relevo dos músculos mastigadores e da nuca; e ligeiramente côncavo no focinho. Articulado com o pescoço forma um arco de forte musculatura.

Trufa: narinas amplas. Ligeiramente elevada de frente dando à terminação a concavidade do focinho. Visto de perfil, a linha anterior é perpendicular e reta, coincidindo com o bordo do maxilar ou ligeiramente anterior a ele.Trufa: pigmentação preta.
Focinhos: forte, um pouco mais longo do que profundo, bem desenvolvido em largura, com seus lados ligeiramente convergentes.Focinhos: A linha superior é ligeiramente côncava, característica quase exclusiva do Dogo Argentino.
Lábios: moderadamente grossos, curtos e aderentes, com os bordos livres.Lábios: Preferêncialmente pretos.
Maxilares / Dentes: maxilares fortes e bem adaptados sem prognatismo superior ou inferior. Os maxilares devem ser ligeiramente convergentes dando homogeneidade às arcadas dentárias. Os maxilares asseguram uma capacidade máxima de morder.Maxilares / Dentes: Dentes grandes, bem desenvolvidos firmemente dispostos em linha, limpos e sem cáries. A completa dentição é recomendada, dando prioridade à homogeneidade das arcadas dentárias. Mordedura em torquês, aceitando mordedura em tesoura.
Bochechas: longas e relativamente planas, sem dobras, relevos ou cinzelamento.Bochechas: cobertas por pele forte.
Olhos: protegidos por pálpebras. Inserção média e ampla, separação entre ambos. A expressão deve ser alerta e viva, ao mesmo tempo, bem firme, especialmente nos machos.Olhos: escuros ou cor de avelã,com bordas de preferência pretas sendo que a ausência de pigmentação não é falta. Amendoados.

Orelhas: inseridas altas e, lateralmente, bem separadas devido à largura do crânio.
Em alerta, elas podem ser semi-eretas.

Orelhas: Funcionalmente, deverão apresentar-se cortadas e eretas, em forma triangular e de um comprimento que não exceda 50% do bordo anterior do aurículo da orelha natural. Sem serem cortadas, as orelhas são de comprimento médio, grossas, planas e arredondadas na ponta. De pelagem lisa, ligeiramente mais curta do que no resto do corpo, podem ter pequenas manchas que não devem ser penalizadas. Em posição natural, são pendentes cobrindo a parte traseira das bochechas.
Pescoço: de comprimento médio, forte e reto, bem musculoso com uma ligeira linha superior convexa. Em forma de cone truncado, junta-se à cabeça em um musculoso arco que esconde todos os relevos ósseos desta região e se fixa, no tórax, numa base larga. Coberto por uma pele elástica e grossa que se desliza livremente sobre de um tecido celular subcutâneo ligeiramente mais solto do que no resto do corpo, fazendo suaves dobras não pendentes na altura da garganta; esta característica é fundamental para a função do cão. A pelagem nesta região é ligeiramente mais longa.Cauda: de inserção média, em ângulo de 45° com a linha superior. Em forma de sabre, grossa e longa; atingindo os jarretes, sem ultrapassá-los. Em repouso é caída naturalmente. Quando o cão está em ação é ligeiramente portada acima da linha superior e em constante movimento lateral. Em trote é portada ao nível da linha superior ou levemente acima dela. 
PELE: homogênea, ligeiramente grossa, mas suave e elástica. Aderente ao corpo por um tecido subcutâneo semi-frouxo que lhe permite movimentos livres, sem formar rugas relevantes, exceto na região do pescoço onde o tecido subcutâneo é mais frouxo. Com a menor pigmentação possível, apesar desta aumentar com a idade. A pele excessivamente pigmentada não é aceita. Preferem-se exemplares com os bordos das mucosas labiais e as pálpebras pigmentadas de preto.Membros anteriores: vistos em conjunto, representam uma unidade forte e de robusta conformação ósseo-muscular, proporcionais ao tamanho do animal. Aprumos perpendiculares tanto de frente como de perfil. Ombros: altos e proporcionados, muito fortes com grandes relevos musculares, sem exageros. Oblíquos com a horizontal de 45°. Braços: comprimento médio e proporcional ao conjunto. Forte e de importante musculatura, com um ângulo de 45° com a horizontal. Cotovelos: robustos, cobertos de uma pele mais grossa e elástica sem dobras e sem rugas. Naturalmente situados contra a parede costal parecendo formar parte dela. Antebraços: de igual comprimento que os braços e perpendiculares, com ossos fortes e retos com bom desenvolvimento muscular. Articulação do carpo: longo e em uma mesma linha com os antebraços, livre de sobre-relevos ósseos e rugosidades. Metacarpos: ligeiramente planos com bons ossos e inclinados de 70° a 75° com a linha horizontal. Patas dianteiras: redondas com dedos curtos, robustos e bem fechados. Almofadas carnosas e duras cobertas de pele dura e áspera ao tato.
Pelagem: Pêlo: uniforme, curto, liso e suave ao tato com um comprimento aproximado de 1,5 cm a 2 cm. Sua densidade e grossura variam segundo os climas. Em climas tropicais a pelagem é fina e rala (deixando transparecer a pele fazendo-se visíveis as regiões pigmentadas, o que não é motivo de penalização) e mais grossa e densa nas regiões frias onde pode aparecer subpêlo.Posteriores: Angulações médias. Vistos em conjunto são fortes e paralelos, dando a imagem de força e potência que sua função requer, assegurando a suficiente impulsão e determinando o típico modo de andar. Coxas: comprimento proporcional ao conjunto. Fortes, com importante e muito visível desenvolvimento muscular. Ângulo coxofemoral próximo a 100°. Joelhos: colocados no mesmo eixo do membro; ângulo fêmoro-tibial cerca de 110°. Pernas: ligeiramente mais curtas que as coxas, fortes e com os mesmos músculos bem desenvolvidos. Jarretes: o conjunto tarso-metatarso é curto, forte e firme, assegurando a força de propulsão do membro posterior. Tarso robusto, com a parte do jarrete evidente. A articulação tíbio-tarsiana forma um ângulo perto de 140°. Metatarso robusto, quase cilíndrico e aprumado em 90° com a horizontal. Ergôs devem ser removidos. Patas traseiras: idênticas às patas dianteiras, ligeiramente menores e mais longas, mas com as mesmas características. 
COR: integralmente branca. Admite-se, unicamente, uma mancha preta ou de tonalidade escura ao redor dos olhos, não cobrindo mais de 10% da cabeça. Entre dois cães de iguais condições, o juiz sempre deverá escolher o mais branco.Movimentação: ágil e firme; com notórias modificações quando alguma coisa o interessa, mudando de atitude com reflexos rápidos, típicos desta raça. Passo pausado. Trote amplo, de boa suspensão anterior e potente propulsão. No galope mostra toda sua energia, desenvolvendo toda a potência que possui. As quatro patas deixam rastros simples e paralelos. Passo de camelo é considerado uma falta grave.

Dentro dos aspectos objetivos, não há qualquer margem de liberdade. Exemplificando, a proporção crânio/focinho deve ser 1:1. A descrição é precisa e qualquer desvio será inequivocamente uma falta, um defeito.

Por outro lado, no que se refere aos aspectos subjetivos, existe uma área de liberdade. O padrão descreve que o pescoço deve ser longo e musculoso. Entretanto, não precisa exatamente quão longo ou musculoso deve ser, nem mesmo qual é o ponto equilíbrio entre essas duas características. Há um campo dentro do qual cães com pescoços diferentes estarão igualmente dentro do padrão. Claro que evitando os excessos, tais como, pescoço curto, muito longo, pouco musculoso e franzino. É uma questão de razoabilidade, de equilíbrio e balanceamento.

Aliás, equilíbrio e balanceamento são fatores chaves em qualquer programa de criação. Uma cabeça pesada para um cão de conformação mais leve será sem dúvida uma fonte de problemas. Essa desproporção entre cabeça e corpo pode até mesmo induzir defeitos de traseira no cão.

Em termos de estrutura, alterações em uma região específica, geralmente, mostram conseqüências por todo o corpo. Por isso, não adianta estabelecer objetivos conflitantes para um plano de criação.

Também se deve atentar para o fato de que muitas vezes defeitos vêm acompanhados de qualidades e vice-versa. É o caso das cabeças pesadas e expressivas dos cães europeus que geralmente vêm acompanhadas de excesso de barbelas. Por isso, também faz parte do plano de criação estabelecer quais defeitos se pretende suportar em uma linha de sangue para se ter determinadas qualidades.

Do mesmo modo, o que é correto em determinado cão pode ser defeituoso em outro. Nesse sentido, um cão com dorso inclinado, para ter as angulações em equilíbrio, tem a angulação dianteira mais aberta e a traseira mais fechada. Já um cão com o dorso em nível terá a angulação dianteira mais fechada e a traseira mais aberta para tê-las balanceadas.

É por tais aspectos que muitos consideram a criação de cães como uma arte. É certo que o padrão estabelece algumas limitações, mas há uma grande margem de liberdade para diferentes estilos de criação. Nesse aspecto, é bom lembrar que o dogo argentino tem na sua origem fortes influências dos molossos. Da mesma forma, diversos tipos de cães, como por exemplo Pero Pelea Cordobês, Boxer, Bull Terrier, Dogue Alemão, entre outros participaram da formação da raça.

Em outras palavras, o dogo argentino tem, nas suas origens próximas e remotas, a diversidade. Nisso reside a explicação para o grande número de tipos dentro da raça.
Cabe ao criador, dentro de tal pluralidade de tipos, escolher e fixar, dentro do padrão, o estilo de sua criação, ponderando todas as características que deseja selecionar e as que objetiva excluir.
De tal modo, um plano de criação deve selecionar animais saudáveis e férteis e que se assemelhem a um ideal fixado pelo criador com base no padrão da raça. O balanceamento, a harmonia e o equilíbrio são fundamentais no estabelecimento desse ideal. Também, faz parte da fixação dos objetivos de criação estabelecer quais defeitos está-se disposto a suportar e quais qualidades se deseja valorizar.
Cabe, ainda, fazer uma última advertência no que tange aos objetivos de criação: mudá-los radicalmente significa começar do zero todo o trabalho para se estabelecer uma linha de sangue.
A formação do plantel: a seleção de matrizes e padreadores

Outro ponto chave de um programa de criação é a seleção das matrizes e padreadores, seja de exemplares adquiridos de outro canil ou de exemplares advindos de criação própria. Em quaisquer dos casos, os exemplares devem sempre se aproximar o máximo possível do ideal fixado pelo criador. A conformação dos exemplares escolhidos deve sempre seguir um padrão. É essencial que todos os exemplares de um canil que deseja fixar uma linha de sangue se assemelhem.
É uma tarefa hercúlea e ingrata tentar fixar uma linha de sangue a partir de indivíduos de características heterogêneas. Se o objetivo é estabelecer uma linha de sangue, a utilização de exemplares de conformação díspares, mesmo que sejam excepcionais, não é ideal. É bom sempre lembrar que a estrutura de um cão é determinada por uma complexa combinação de genes, em que bastam pequenas alterações para desequilibrar todo o conjunto. Nesse sentido, acasalar exemplares muito diferentes é um primeiro passo para romper um equilíbrio construído durante gerações. Estabelecer e manter uma homogeneidade de conformação de plantel é, portanto, um fator primordial.
Entretanto, a homogeneidade não deve ser apenas de conformação, mas também genética. Os exemplares devem ter cargas genéticas próximas. Acontece que há apenas uma forma de assegurar que os exemplares tenham cargas genéticas próximas e homogêneas: a utilização de cães com parentesco. É, por isso, que, na formação de uma linha de sangue, os cruzamentos - consangüíneos próximos (inbreeding) ou distantes (linebreeding) - têm grande importância.
Da mesma forma, são peças importantes do programa de criação os indivíduos que sejam resultantes de acasalamentos fechados. Em tais cães, a análise do pedigree é importantíssima, já que se os ascendentes foram de excepcional qualidades serão grandes as chances de o cão também ser de boa conformação.
Ainda quando se fala da carga genética, a seleção de progênie é um método valioso para se fixarem as características desejadas. A seleção de progênie envolve dois aspectos complementares: a progênie - descendentes - dos melhores exemplares deve sempre ter destaque na criação e também os indivíduos de melhor progênie devem receber mais atenção.
A escolha do padreador do canil é algo sensível e de extrema relevância em um canil. Em primeiro lugar, é necessário ressaltar que o caminho mais rápido para estabelecer uma linha de sangue está na utilização de apenas um macho, já que a utilização de vários cães dificultará a uniformização do plantel. Também, não se pode ignorar que o padreador deve ser um cão excepcional e resultante de um cruzamento fechado. É que a introdução dessas ótimas qualidades possibilitará a homogeneização e o elevamento rápido do nível de criação, pois um macho pode cobrir incontáveis cadelas, imprimindo suas características em todos os descendentes do canil. A seleção do padreador é, de tal modo, uma tarefa de extrema importância. Ele não pode, de forma alguma, ser um cão medíocre.
Justamente, por isso, é sempre melhor, para os iniciantes na criação, a compra de uma cadela. É certo que é muito mais difícil adquirir uma cadela excepcional do que um macho, pois são raros os criadores experientes que não mantém as melhores matrizes para si. Entretanto, os riscos envolvidos, na compra da fêmea, são menores, porque uma fêmea mediana pode ser bem aproveitada na criação. Infelizmente, o mesmo não se pode dizer de um macho.
Por outro lado, acertar na aquisição de uma boa matriz é outro ótimo começo para a formação de uma linhagem. Com uma cadela de excelente conformação, pode-se até mesmo prescindir de um padreador próprio. Basta acasalar essa cadela com os melhores padreadores e manter os melhores filhotes das ninhadas. Com isso, terá sido dado um grande passo para estabelecer uma linha de sangue. Apenas para recorrer a exemplos de criações mais recentes, vários canis tiveram grande sucesso com essa técnica.
Uma última observação deve ser feita sobre a formação do plantel, o número de cães que formam o plantel do canil tem grande influência sobre a formação de uma linha de sangue. Quanto maior o número de integrantes do canil, mais difícil será a fixação de uma linhagem, pois haverá uma maior variabilidade de cargas genéticas e de conformações. Por isso, é aconselhável que grandes canis dividam o seu plantel em
grupos de acasalamento por proximidade parentesco. Assim, será possível formar várias linhas de sangue, enquanto que o acasalamento indiscriminado entre exemplares de um grande canil será um grande empecilho até mesmo para a formação de apenas uma linha de sangue.

Métodos de acasalamento

Para estabelecer uma linha de sangue de cães com ótimas qualidades, é indispensável o recurso aos acasalamentos fechados, sejam próximos (inbreeding) ou remotos (linebreeding). Como já dito, é o parentesco entre os cães que vai garantir a homogeneidade genética e, conseqüentemente, de conformação dos cães que irão compor a linhagem. São os cruzamentos consangüíneos que fixam as características.
Entretanto, nem sempre os cruzamentos consangüíneos são os métodos indicados para corrigir certos defeitos ou obter determinadas características. Também, é bom lembrar que o uso indiscriminado do cruzamento consaguíneo pode acarretar perda de vitalidade e tamanho nos animais, chamada depressão endogâmica. Por isso, cada uma das técnicas de acasalamento merece uma analise pormenorizada:
1) Inbreeding - é o acasalamento entre parentes próximos, especialmente irmãos inteiros, pais e filhos e meio-irmãos. É o caminho mais rápido para se fixar características. Aliás, para se obter uma grande homogeneidade na linhagem, o indicado seria utilizar técnicas de acasalamentos sucessivos entre parentes como no caso do backcrossing - técnica pela qual se cruza um pai com filha, selecionado-se dessa ninhada uma fêmea, cruzando o avô com esta neta e assim por sucessivas gerações.
Uma objeção que se faz ao inbreeding é a de que ele induz anomalias e causa uma perda de vitalidade (depressão endogámica). Aqui cabe uma observação, o inbreeding não cria nada, apenas depura a linhagem, concentrando todo o seu potencial genético. Em outras palavras, o inbreeding traz à tona todas as características de uma linha de sangue, sejam elas boas ou ruins. Por isso, se os cães da linha de sangue carregam genes que podem causar alguma doença, certamente ela aparecerá em um programa de cruzamentos fechados. O outro lado da moeda também é verdadeiro, se após sucessivos cruzamentos fechados a linha de sangue não apresentou doenças hereditárias, os indivíduos que a compõe são geneticamente sãos.
Justamente por induzir a homogeneidade de conformação e genética, o inbreeding não é o método adequado para se obter rapidamente uma característica que não está na linhagem. Exemplificando, se o objetivo é alongar pescoço de uma linhagem que tem pescoço curto, o método mais rápido será um outcross com um cão de pescoço correto. O inbreeding, da mesma forma, não é o melhor método para se obter exemplares com características superlativas. Mais claramente, o inbreeding não produzirá um Dogo Argentino de 70 cm de cernelha. O inbreeding é o método mais indicado para se obter características intermediárias.
2) Outcross - é o acasalamento de animais sem parentesco ou de parentesco muito longínquo (acima da 6ª geração). Não pode ser o único método para se estabelecer uma linhagem. É que os cães a serem utilizados no outcross possuem material genético distante, permitindo uma grande variabilidade na descendência. Como já dito, é o método ideal para se obter uma característica não existente na linhagem e para selecionar aspectos superlativos de conformação. No outcross, para tentar controlar a variabilidade da progênie é sempre interessante utilizar indivíduos de conformação parecida (cruzamento entre semelhantes). Também, é aconselhável que, para realizar o outcross, escolham–se cães que sejam resultados de cruzamentos fechados.
3) Linebreeding - é o cruzamento entre parentes não muito próximos, tal como tio com sobrinha, entre primos, avô com neta, etc. Geralmente se diz que o linebreeding abrange o cruzamento entre cães que apresentem parentesco até a 5ª geração. O linebreeding é um meio termo entre o inbreeding e o outcross. É uma forma de assegurar uma certa homogeneidade da linha de sangue, evitando-se os riscos do inbreeding excessivo. Por ser um método de equilíbrio, é possível na sua utilização conjugar as vantagens do inbreeding com as do outcross. Em outras palavras, é um método que mantém uma certa homogeneidade, permitindo o aporte rápido de algumas características. Da mesma forma, pode possibilitar a seleção de características superlativas conjugadas a intermediárias.
4) Cruzamento de semelhantes x cruzamento entre opostos - são métodos que não se atém necessariamente ao parentesco entre os exemplares. Para o cruzamento entre semelhantes, é essencial os exemplares que participem do acasalamento tenham as mesmas qualidades que se deseja perpetuar. Já o cruzamento entre opostos é a técnica pela qual se acasalam cães com características opostas para se obter uma progênie equilibrada (cruzamento entre um cão com garupa plana com uma cadela com garupa de inclinação excessiva). Em termos de seleção e perpetuação de características, o cruzamento entre semelhantes é um método superior em relação ao cruzamento entre opostos. É que mesmo que se consiga corrigir um defeito com base no cruzamento entre opostos certamente os defeitos anteriores reaparecerão nas gerações seguintes. Entretanto, o cruzamento entre opostos pode ser a única solução para corrigir um defeito, mas mesmo nesse caso o mais rápido possível deve-se retornar ao cruzamento entre semelhantes para que a característica possa ser perpetuada.
5) Nicking – é quando dois cães produzem melhores filhotes quando acasalados entre si do que com parceiros distintos. Trata-se de um grande achado na criação em que as características dos indivíduos se potencializam no acasalamento. A progênie desse dois exemplares deve ser sempre valorizada e é sempre indicada a sua repetição.
Os cruzamentos fechados são, portanto, a base da formação de uma linha de sangue. Acontece que a otimização do esforço no estabelecimento de uma linhagem exige a utilização de outros métodos. Um dos grandes segredos da criação é estabelecer um equilíbrio nas técnicas de cruzamento.

Conclusão

A multiplicidade de tipos na raça Dogo Argentino e o tamanho dos cães - uma característica superlativa - indica que os tipos de cães que formaram a raça eram bem diferentes. É com base em tal constatação que um criterioso trabalho de criação nessa raça é indispensável, em face do amplo espectro genético envolvido na raça. Sem um esforço direcionado, há sempre o grande risco de retorno a características indesejadas dos galgos e dos mastifes. Em qualquer raça, estabelecer uma linha de criação é algo penoso, mas, em uma raça com tal variação de material genético, estabelecer uma uniformidade de plantel é ainda mais difícil, o que exige um maior domínio das técnicas de criação.

Baseado na COLABORAÇÃO OTHON LOPES – Canil Lands des Helds para criação da raça Dogue Alemão.

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